Londres nunca mais! Brasil despacha a Rússia por 3 a 0 e vai à final na Rio 2016
Time de Bernardinho espanta o fantasma de quatro anos atrás, conquista vaga na disputa da medalha de ouro contra a Itália e faz história no Rio de Janeiro
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- Vicente Almeida
- Esportes
- 20 Agosto 2016 - 06:20
A seleção brasileira de vôlei masculino não deu chances para o time da Rússia na noite desta sexta, no Maracanãzinho, venceu a partida por três sets a zero (25-21, 25-20, 25-17) e despachou os algozes da final de Londres 2012 para a disputa da medalha de bronze. Bernardinho mostrou porque é um dos melhores treinadores de todos os tempos. Com intervenções perfeitas, substituições cirúrgicas e pedidos de tempo no momento exato, organizou seu time e não deu a mínima chance para a Rússia. Se na final de Londres 2012, o comandante russo assombrou o mundo ao mudar colocar o ponteiro Muserskiy na posição de oposto e, com isso, virar uma partida praticamente perdida para cima do Brasil. Agora, foi a vez do experiente técnico brasileiro se reinventar e colocar sua equipe na quarta final seguida, um feito inédito que mostra a grandeza do técnico campeão em 2004 e vice em 2008 e 2012.
Desde a primeira bola, quem olhava o jogo com atenção perceberia o tamanho da vontade dos jogadores em quadra. Se Lucarelli não estava cem por cento, claramente poupando o esforço em cima da virilha direita, devido à contusão na partida contra a Argentina, Wallace estava impossível. O oposto brasileiro com calma e dedicação é, sem dúvidas, um dos melhores jogadores dessa olimpíada. Sempre que a seleção da casa esteve em apuros foi ele quem chamou a responsabilidade. Outro que cresceu muito durante os jogos e que estava em uma noite perfeita foi o ponteiro Lipe. Nem a dor e o problema na região lombar que o deixou sem andar durante o jogo das quartas de final foram capazes de tirar seu brilho, sendo o terceiro maior pontuador da equipe. Mas a cena da noite aconteceu quando Wallace explorou o bloqueio russo e fechou a partida. O líbero Serginho, mesmo com a experiência de quem já esteve em três finais olímpicas e do alto de seus quarenta anos de idade, desabou. Como um menino que se entrega a cada bola, “Escadinha”, como é conhecido, dessa vez se entregou à emoção. A emoção de um menino experiente que acabava de descobrir que diferente de outas épocas, quando só teve uma chance na vida, poderia tentar mais uma vez. E, quem sabe, encerrar sua carreira com chave, ou melhor, com a medalha de ouro.
SAQUE E BLOQUEIO FAZEM A DIFERENÇA E BRASIL SAI NA FRENTE
O primeiro set começou bastante equilibrado. Os times trocavam as bola de um lado e de outro. O líbero Serginho chamou a atenção do grupo, pois o bloqueio brasileiro não estava conseguindo marcar o ataque russo. No ataque fora de Wallace, os russos tomaram a dianteira do placar. O time da casa reagiu e abriu dois pontos de vantagem, obrigando o técnico Vladimir Alekno a parar a partida com o tempo técnico. O árbitro marcou bola fora do ataque brasileiro, Bernardinho pediu o desafio eletrônico e provou que a bola pegou no dedo do bloqueador russo, confirmando o ponto para o Brasil. No ponto seguinte Wallace encaixou um bloqueio, explorou a parede russa e o Brasil vencia por cinco pontos de diferença. O técnico russo parou a partida de novo, na esperança de diminuir o volume de jogo. O Brasil administrava a vantagem de cinco pontos com calma e com seriedade. Tanto que quando os russos diminuíram um ponto, Bernardinho pediu o segundo tempo técnico. No retorno, fez a inversão do oposto com o levantador e colocou William e Evandro nos lugares Bruninho e Wallace. Mexida clássica do técnico nos finais das passagens em todos os jogos. Após uma rápida troca de bolas, William achou Lucão livre no meio da rede e o brasileiro cravou o vigésimo quarto ponto. Os russos não se entregavam. Tiraram dois pontos e Bernardinho parou a partida de novo. No retorno Lucarelli não perdou, marcou o ponto e fechou o set em 25 a 21.
BERNARDINHO PARA O JOGO NA HORA CERTA E NÃO DÁ CHANCES DA REAÇÃO RUSSA
A segunda passagem começou com Tetyukhin, do alto de seus quarenta anos, virando as bolas e abrindo dois pontos para os russos. Os brasileiros empataram. Os times passaram, mais uma vez, a trocar bolas de um lado e de doutro. Os marcadores russos se dedicavam a marcar o oposto Wallace, mas Bruninho distribuía o joga e Lipe, que saiu de quadra com um problema lombar na partida com a Argentina, se tornava o grande nome dos jogos. Os europeus não conseguiam marcar o ponteiro brasileiro que virava todas as bolas. No décimo segundo ponto da Rússia, um lance curioso. Bernardinho queria o desfaio eletrônico para comprovar uma irregularidade no passe dos adversários, mas a própria comissão técnica não deixou que o treinador solicitasse o recurso. Bernardinho ficou louco com os auxiliares, mas acatou a decisão da maioria. Os times apresentavam um bom volume de defesa no jogo. Quase todas as bolas passavam pelo bloqueio, seja com um toque para facilitar a vida do defensor ou com a finalização do ponto. Os russos que chegaram a estar três pontos na frente do placar viram o time da casa virar a partida para dezessete a dezesseis e incendiar o Maracanãzinho. O time da Russia empatou e os jogadores brasileiros pediram o desafio eletrônico. Porém, as imagens confirmaram a bola para fora do ataque dos donos da casa. Grankin passou uma bola de toque para os brasileiros e jogou para fora, depois Mikhaylov parou no bloqueio e o Brasil abriu três pontos de vantagem. Tempo técnico pedido pelos russos e na volta, Lucarelli acertou a mão para cravar mais um ponto para o time da casa. A Rússia fez a inversão de oposto com levantador e diminuiu com um ace. Bernardinho parou a partida. O técnico não dava chance para os adversários. Os russos arrumaram uma tremenda confusão na quadra. Queriam um desafio eletrônico. O árbitro não permitiu e Tetyukhin aplaudiu ironicamente e levou um cartão amarelo. Na sequência Bruninho acertou um saque flutuante espetacular e quebrou o passe dos russos. A bola voltou de graça para Wallace explorar o bloqueio e fechar o ser em 25 a 19.
BRUNINHO CAPRICHA NA DISTRIBUIÇÃO DE JOGO E BRASIL CRAVA 3 A 0
Logo na primeira bola do terceiro set, o árbitro marcou o toque russo na rede para vibração de Serginho. Como o jogo era de detalhes inusitados, a bola bateu no cabo de aço da câmara que faz as imagens aéreas no ginásio. O árbitro mandou voltar o ponto para desespero dos russos que sacaram na rede e erraram o passe dando o ponto para o Brasil que marcou mais um com o ace de Lipe, confirmado pelo desafio eletrônico solicitado por Bernardinho e colocando os donos da casa quatro pontos na frente do placar. Na passagem de Volkov pelo saque, os russos reagiram e viraram a partida. Bernardinho parou o jogo e deu uma bronca no time que parecia perder a concentração. Deu certo. Os brasileiros interromperam a sequência russa e passaram a trocar as bolas. Com um ataque de Lipe, um ace de Wallace e um bloqueio de Lucão, colocaram o Brasil três pontos na frente, o que fez o técnico Alekno, campeão olímpico de Londres 2012, parar a partida e chamar a atenção de sua equipe. Os times se encaravam, trocavam as bolas, mas o Brasil administrava a vantagem no placar. O bloqueio brasileiro chegava a todas as bolas e Wallace não perdia nenhuma chance de fazer o ponto. Os russos pareciam entregues e deixaram o time de Bernardinho abrir sete pontos de diferença. O Maracanãzinho explodiu nos gritos de “o campeão voltou”. Os russos marcavam a ponta de rede e o Bruninho coloca a bola no meio. Marcavam o meio e o levantador abria nas pontas. Se os europeus marcavam a entrada de rede, Bruninho colocava na saída. Se marcassem a saída, ele colocava na entrada. O levantador brasileiro mostrava que estava muito ligado no jogo e atento, distribuía as bolas com maestria, para desespero dos russos. Mihaylov colocou a bola para fora e o técnico russo solicitou o desafio eletrônico pedindo toque no bloqueio brasileiro, mas as imagens mostraram que o toque não aconteceu e fez o Maracanãzinho explodir de vez. O Brasil estava a um ponto da final. Wallace estava impossível. Balanceou o saque e desmontou a recepção dos russos que passaram a bola de graça. Serginho levantou e o mesmo Wallace explorou o bloqueio para fazer história. O Brasil fechava o set em 25 a 33333 e a partida em três sets a zero. Carimbando a vaga para a Final contra a Itália, no domingo.
Visivelmente emocionado, o líbero Serginho mostrou o quão importante o próximo jogo será para ele que carrega no peito a dor das duas últimas derrotas em Pequim 2008 e Londres. 2012.
- É difícil porque só a gente sabe o que passamos para chegar aqui. É difícil de acreditar que com a minha idade posso batalhar e jogar de igual para igual com eles. Fazer quatro finais seguidas de olimpíadas. Agora é descansar e pensar na final, porque esses meninos precisam ser campeões olímpicos. Agora é focar e fazer história, porque essa equipe precisa ser campeã em casa – contou com lágrimas nos olhos.
O ponteiro Wallace, principal nome do Brasil no jogo, falou sobre a contusão dos companheiros e como é chegar a outra final olímpica depois da decepção de ser derrotado em Londres 201.
- Sinceramente eu tento jogar com a mesma responsabilidade de sempre. Como oposto você tem sempre que ter uma responsabilidade a mais. Eu não jogo com responsabilidade a mais por eles estarem machucados. Sempre tento dar meu máximo e ajudar o time. Hoje consegui ajudar mais uma vez e todos que entraram fizeram sua parte. Afinal, esse time não é feito de seis, são doze. De Londres para cá eu estou mais maduro. Com certeza não vou cometer os mesmos erros de 2012. Hoje, chego mais preparado para essa final - admitiu.
Bernardinho elogiou a postura de seus comandados em quadra e mostrou que já está com a cabeça voltada para a final contra a Itália.
- A pressão que a gente colocou no saque. A equipe colocou seus problemas de lado, focou apenas em jogar, cometeu poucos erros, botou pressão, ou seja, jogou da forma que nós queremos que Brasil jogue sempre. Até então, a equipe vinha com altos e baixos com alguns bons momentos, mas hoje foi constante. Eles recuperavam e a gente abria. Agora, já estou com a cabeça na Itália que vem de uma grande vitória de recuperação contra os Estados Unidos. A diferença de recuperação é complicada. Em Londres fomos perdendo força durante a partida. Vamos precisar de muita preparação que o time da Itália é um time que erra menos, defende mais e saca com mais pressão e fundamentalmente no jogo da primeira fase a gente não suportou a pressão do saque – contou o treinador.
FICHA TÉCNICA:
Brasil 3 x 0 Rússia
Local: Ginásio do Maracanãzinho
Data: 19 de agosto de 2016 (sexta)
Horário: 22h35m (de Brasília)
Levantadores
Bruninho (Modela/Itália)
William (Sada Cruzeiro)
Raphael (Funvic/Taubaté)
Opostos
Wallace Souza (Sada Cruzeiro)
Evandro (Suntory/Japão)
Wallace Martins (Brasil Kirin)
Centrais
Lucão (Modela/Itália)
Isac (Sada Cruzeiro)
Sidão (Sesi-SP)
Éder (Sada Cruzeiro)
Maurício Souza (Brasil Kirin)
Ponteiros
Murilo (Sesi-SP)
Lucarelli (Funvic/Taubaté)
Lipe (Funvic/Taubaté)
Lucas Lóh (Brasil Kirin)
Douglas (Sesi-SP)
Líberos
Serginho (Sesi-SP)
Tiago Brendle (Brasil Kirin)
Técnico: Bernardinho